sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Comprar casa própria ou alugar: simular é fácil, mas como se decidir?

Comprar casa própria ou alugar: como se decidir?

Entre amigos, nos papos com a família e na Internet, você sempre vai encontrar calorosas discussões envolvendo a decisão de comprar casa própria ou alugar.

Você com certeza já ouviu a expressão “Quem casa, quer casa”. Pois é, comprar a casa própria ou alugar um imóvel é uma decisão que sempre “atormenta” casais jovens, mas que existe também como dúvida entre quem está formando patrimônio.

A discussão costuma girar em torno da dúvida sobre as vantagens entre comprar a casa própria e alugar. Alguns benefícios da casa própria não fazem sentido para quem prefere alugar e os dois grupos são ferrenhos defensores de seus pontos de vista.

Minha visão é bastante pragmática e simples: a polêmica é muito interessante para abrir a cabeça para novas perspectivas, mas as escolhas precisam ser tomadas de acordo com o perfil, necessidades e prioridades de cada um.

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Comprar casa própria ou alugar? O lado financeiro da coisa

Os principais argumentos de quem defende que você deve fugir da compra da casa própria são financeiros, principalmente quando a família defende empatar muito dinheiro em um imóvel ou financiar em muitos anos.

A tese de quem prefere alugar a comprar a casa própria defende que o dinheiro bem aplicado, mais a disciplina de seguir investindo mês a mês fará seu patrimônio líquido final ser maior do que aquele com a casa própria (mesmo com sua potencial valorização).

De forma simplificada, pense que você pode dar uma entrada de R$ 100 mil para comprar um imóvel de R$ 400 mil. O financiamento dos R$ 300 mil hoje em 20 anos, a uma taxa anual de 7% ao ano considerando a Tabela SAC geraria parcelas iniciais de R$ 3 mil, caindo até R$ 2 mil ao longo de 10 anos. E depois até R$ 1.300 ao longo dos 10 anos finais.

Caso você consiga alugar um imóvel semelhante por R$ 1.500,00, digamos, você deveria ter de R$ 1.500,00 a R$ 500,00 por mês, pelo menos durante 10 anos, para investir – estes valores são a diferença entre o que você pagaria de parcela para o valor do aluguel. Para efeitos didáticos, estou excluindo a inflação deste exercício.

Mas será que você teria disciplina para guardar e investir este valor todo mês? Talvez. Provavelmente não, se considerarmos como a maioria dos brasileiros lida com o seu dinheiro. Com a parcela do imóvel chegando todo mês, você teria uma conta para pagar. É diferente, eu sei, embora não devesse ser se pensarmos na educação financeira.

Quanto esse dinheiro guardado por mês cresceria em 10 anos, se você fosse capaz de guardá-lo enquanto paga aluguel? Algo próximo de R$ 220 mil considerando um retorno moderado. E você ainda teria os R$ 100 mil da entrada porque não teria comprado a casa própria, que investidos seriam R$ 130 mil. Em 10 anos, você teria então R$ 350 mil e estaria pagando aluguel.

Nos próximos 10 anos, você teria menos capacidade de guardar porque as parcelas decrescentes ficariam mais próximas do valor do aluguel, mas ainda seria capaz de juntar aproximadamente R$ 50 mil. Chegaria ao final com R$ 400 mil guardados, pagando aluguel. Deu empate. E agora? O que faria mais sentido?

Leia também: Financiamento: quanto maior a entrada, melhor (comprove com números)

Comprar casa própria ou alugar? O perigo das simulações

Pode parecer que ter uma casa de R$ 400 mil ao final de 20 anos é melhor que ter os R$ 400 mil guardados e continuar vivendo de aluguel. Calma. Tenha em mente que se esse exercício fosse feito há 5 anos, a matemática do guardar e investir seria muito mais vantajosa. Toda simulação requer cuidado porque:

  • Usa indicadores e taxas do presente para estimar o futuro: considerei um retorno de pouco mais de 2% ao ano para as aplicações (a Selic está em 2% enquanto escrevo este texto, em agosto de 2020) e uma taxa de juros no financiamento de 7% ao ano, que também era maior algum tempo atrás. Uma combinação de retorno maior e juros mais elevados faria o aluguel ficar muito mais interessante;
  • Considera um período longo sem mudanças: se você considerar que o Plano Real tem menos de 30 anos, não parece arriscado fazer um planejamento financeiro contando com a simulação para os próximos 20 anos e agarrar-se fielmente a ele? Como vai se comportar a economia do Brasil no longo prazo? Difícil dizer.

O ponto aqui é que precisamos decidir hoje, agora, mas aprender a lidar com as mudanças ao longo do tempo. O exemplo que mostrei no texto de hoje seria completamente diferente em uma simulação 5 anos atrás. Há 10 anos, seria ainda mais drástica a mudança e a vantagem de alugar para quem tivesse disciplina.

Mas quem, 10, 20 anos atrás decidiu alugar e passou a guardar dinheiro todo mês? E quem comprou a casa própria, está com ela até hoje ou já a vendeu e fez outra coisa com o dinheiro? Perceba que são as decisões e nossa capacidade de manter o curso dos objetivos que fazem diferença. Simular é fácil.

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Comprar casa ou alugar? O que fazer?

Decida em paz, sem alimentar a (infundada) necessidade de provar aos outros que você estava certo. Você não vai “esfregar” seu extrato financeiro na cara de ninguém porque conseguiu ficar mais rico pagando aluguel. Ou comprando a casa. Isso não faz sentido.

O mais importante é tomar a decisão coerente com o seu momento, perfil, prioridades e levando em conta tanto os aspectos práticos/matemáticos quanto os subjetivos. O bem-estar da família no longo prazo não está apenas no dinheiro investido, mas nos momentos e nas experiências vividas.

Na boa, não interessa a ninguém saber a razão da sua escolha. Você deve lealdade à sua família e precisa honrá-la. Para fazer isso, é essencial tomar decisões coerentes com a sua realidade financeira, mesmo que elas não sejam necessariamente as escolhas que renderão mais tapinhas nas costas e “likes” nas redes sociais.

O interessante disso tudo é que a polêmica só existe porque tanto comprar a casa própria como alugar são alternativas interessantes e que merecem ser analisadas com cuidado e muita calma. Muitas vezes, como diz o escritor e amigo Jacob Petry, ficamos diante do “óbvio que ignoramos”.

Foto: Pixabay.

—— Este artigo foi escrito por Conrado Navarro. Este artigo apareceu originalmente no site Dinheirama.A reprodução deste texto só pode ser realizada mediante expressa autorização de seu autor. Para falar conosco, use nosso formulário de contato. Siga-nos no Twitter: @Dinheirama


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